Há momentos em que a vida nos convida a parar. Não como quem desiste, mas como quem recolhe as velas para ouvir melhor a direção dos ventos. É nesse espaço suspenso, onde as palavras se tornam escassas e os ruídos do mundo perdem importância, que o silêncio começa sua obra invisível: reconstruir.
O tempo que permanecemos quietos não é tempo perdido. É o período em que as raízes se aprofundam, buscando águas mais puras; em que o olhar se volta para dentro e encontra, em meio à penumbra, sementes de propósito que estavam adormecidas. No silêncio, a alma afina sua escuta. No recolhimento, o espírito encontra clareza e ressonância.
Na tradição do yoga, há posturas e técnicas que simbolizam esse estado de pausa fértil. Uma delas é Padmasana (Postura de Lótus), não apenas pela sua beleza estética, mas pelo que ela representa: estabilidade, introspecção e enraizamento. Ao sentar-se em Padmasana, com a coluna ereta, as mãos repousando sobre os joelhos e o olhar suavemente fechado, o corpo cria uma base física para que a mente mergulhe no silêncio. Nesse estado, a respiração se torna um farol, guiando-nos para dentro, onde as respostas silenciosas aguardam.
Outra prática profundamente simbólica é o Jnana Mudra, gesto das mãos em que o polegar e o indicador se unem, formando um círculo, enquanto os outros dedos permanecem estendidos. Este mudra representa a união do individual com o universal, lembrando-nos que cada momento de recolhimento é também um ato de conexão com algo maior.
Permitir-se essa pausa é aceitar que reconstruir exige tanto o gesto de soltar quanto o de semear. Assim como na prática, em que permanecemos imóveis para que a energia se reorganize, na vida precisamos de espaços de quietude para que nossos próximos passos nasçam mais conscientes e firmes.
Recomeçar não é simplesmente seguir de onde paramos, mas retomar o caminho com um novo olhar — mais leve, mais profundo, mais alinhado com aquilo que verdadeiramente somos. E, assim como na meditação, o recomeço é silencioso, mas carrega dentro dele a força de uma vida inteira.
No Yoga Morungaba, acreditamos que todo recomeço pode ser cultivado a partir desse encontro consigo mesmo, onde a quietude é fértil e a reconstrução se dá de dentro para fora. Basta sentar, respirar e ouvir — o resto, o silêncio se encarrega de ensinar.
Namastê.
